Por Redação NT, com Fernando Morgado Publicado em 02/09/2025 às 05:27
Esqueça tudo o que você acha que é TV. Ignore tudo o que você já leu e ouviu sobre a definição de televisão. Os 75 anos de história que a TV completa neste mês de setembro valem muito pouco, quase nada, para explicar o que a televisão passou a ser a partir do momento em que o presidente Lula assinou o Decreto nº 12.595/2025, o qual dispõe sobre a nova geração do Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre, mais conhecida como TV 3.0.
Não estou exagerando. Em primeiro lugar, acaba a guerra de mercado com a internet, porque, na prática, a TV come a web. Basta ler o que consta no art. 5º do decreto, que permite aos canais abertos, por exemplo, a “recepção fixa, móvel e portátil” (inciso II), a “integração entre conteúdo transmitido pelo serviço de radiodifusão e pela internet, com a interação entre diferentes dispositivos digitais” (inciso III), a “segmentação de conteúdo de acordo com localização geográfica dos telespectadores” (inciso VI) e a “transmissão de dados como serviço de valor adicionado” (inciso X).
Internet vira parte da televisão e vice-versa Como bem pontuou Samuel Possebon em seu artigo na Tela Viva, a TV aberta vira “uma nova camada de acesso à internet, como são hoje as redes de banda larga fixa ou os serviços móveis”.
Com isso, não faz mais sentido olhar para os dados do Cenp-Meios comparando a fatia da TV separada daquilo que hoje se entende por internet no bolo publicitário, já que a web é parte da televisão e vice-versa. Torna-se mais correto observar o investimento na TV aberta junto das outras cinco formas de mídia existentes na internet: áudio, busca, display, social e vídeo.
Em outras palavras, com a TV 3.0, televisão e web deixam de ser meios distantes e estanques para se transformarem em formatos de mídia que coexistem em uma mesma base tecnológica.
Ponto-massa-ponto: nova definição de TV
Uma das possibilidades mais fabulosas dessa união está na interatividade. Os canais abertos finalmente poderão incorporar as mensagens e os comandos enviados pelo público através de qualquer aparelho, do smartphone à smart TV. A resposta que hoje se dá, em grande medida, através das redes sociais poderá ser dada diretamente às emissoras, com a gratuidade que caracteriza o sinal aberto. Ou seja, as redes de TV aberta passam a operar como plataformas em um terreno que, hoje, é dominado pelas big techs e pelos streamings.
A bola agora está com as redes de TV, os fabricantes de equipamentos e os órgãos reguladores. A depender da ação desses agentes, a TV 3.0 será uma revolução tanto para o povo — que continua preferindo a TV aberta nacional diante de todas as outras plataformas estrangeiras de conteúdo — quanto para o mercado anunciante — que insiste em errar ao não chamar a TV de mídia digital como ela, de fato, é há mais de 15 anos. Ao mesmo tempo, representará um tiro de morte nos cavaleiros do Apocalipse comunicacional.
Fernando Morgado é consultor e palestrante com mais de 15 anos de experiência nas áreas de mídia e inteligência de negócios. É Top Voice no LinkedIn e tem livros publicados no Brasil e no exterior, incluindo o best-seller Silvio Santos – A Trajetória do Mito. Foi coordenador adjunto do Núcleo de Estudos de Rádio da UFRGS. Mestre em Gestão da Economia Criativa e especialista em Gestão Empresarial e Marketing pela ESPM. Acesse o perfil de Fernando Morgado aqui.