Assunto foi um dos principais temas nos dicursos de abertura do 27º Congresso Brasileiro de Radiodifusão, que conta com o apoio da Fenaert
Com um cenário de crise e dificil previsão de retomada do crescimento econômico, o presidente da Associação Brasileira de Rádio e TV (Abert), Daniel Slavieiro, defendeu nesta terça-feira, 6, o adiamento do cronograma de digitalização das transmissões de TV no País, com previsão de inicio em 2016 e fim em 2018. "Quando o cronograma da digitalização foi feito, a conjuntura econômica era outra. Hoje a população e as famílias estão pressionadas pelo desemprego e pela inflação. Os beneficiários do Bolsa Família receberão um "set-top box" do governo, mas as demais famílias terão que pagar do próprio bolso um conversor digital. Temos que nos perguntar: será que faz sentido colocar mais esse ônus na população em um ano que deve ser de recuperação econômica?", questionou ele em seu disurso de abertura do 27º Congresso Brasileiro de Radiodifusão, em Brasília.
Segundo Slavieiro, os radiodifusores não querem que o sinal analógico não seja desligado, mas que a transição seja feita de forma mais segura e responsável possível. Ele disse que a alta do dólar também é mais um agravante para a compra dos equipamentos digitais pelas emissoras.
A defesa de Slaviero encontra eco nos demais representantes do setor. "O discurso do presidente Daniel sintetiza a angústia dos radiodifusores brasileiros," resumiu o presidente da Fenaert, Ary dos Santos, representando a entidade que é uma das apioadoras do evento. Ary ressaltou ainda a manifestação do Ministro Joaquim Levy, que destacou a importância da radiodifusão na economia, e se mostrou positivamente satisfeito com o novo ministro das Comunicações, André Figueiredo, que tomou posse nesta terça-feira. "Ele rapidamente incorporou o pensamento do radiodifusor. Sentimos que é o momento de estarmos unidos".
Para o presidente da Associação Gaúcha de Rádio e TV (AGERT), Roberto Cervo (Melão), é correta a reivindicação do presidente Daniel Slaviero. "As regiões sul e norte do país, por exemplo, tem grandes diferenças. É importante que haja esse entendimento do governo sobre a melhor forma e momento de se fazer essa transição".
A resposta veio da presidente Dilma Rousseff, que afirmou que o governo pode rever o cronograma de implantação do sistema de TV digital no país. "Acho que cronograma se ajusta", disse a presidente. "E dificuldades se superam sempre que se estabelece diálogo adequado entre os segmentos que estão envolvidos nessa questão", completou a presidente. Dilma disse ter determinado que o novo ministro das Comunicações, André Figueiredo, debata com todos os agentes do setor que equacionem o assunto de forma coordenada.
Slavieiro também pediu que o governo decida rapidamente os preços para as licenças que as rádios AM precisarão pagar para migrarem para o modelo FM, único hoje viável comercialmente. O Ministério das Comunicações pretende concluir a primeira rodada de outorgas ainda este ano, mas não divulgou os preços para o processo.
Sobre a migração do AM para o FM, Melão afirma que chegou o momento do governo entender que dá forma como pensa não ia acontecer. "Agora, com diversas manifestações e balanços das emissoras mostramos e provamos a necessidade de uma aproximação dos preços de entrega do canal e compra do FM".
A presidente Dilma disse que a migração de rádios de frequência AM para FM vai significar melhoria de serviços para a população em geral. Essa é uma das prioridades apontadas por ela ao novo ministro das Comunicações.
O presidente da Abert também voltou a defender a flexibilização da veiculação do programa A Voz do Brasil, todos os dias às 19h. "Não dá mais para um entulho da década de 30 continuar privando os ouvintes de seu direito de escolha", concluiu.
O congresso, que ocorre hoje (6) e amanhã (7), vai debater a comunicação. Dentre os temas a serem abordados amanhã em palestras estão o futuro da TV e os desafios da radiodifusão para se adaptar à convergência digital e às novas tecnologias.
Está prevista ainda uma palestra do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, sobre pautas de interesse da radiodifusão que tramitam na Câmara. A flexibilização da Voz do Brasil e a restrição à publicidade serão abordados.
